Sempre prefiro a perspectiva de mudança e evolução a de destruição

 

Mega polêmico esse tema, eu sei. Com a crise do sistema educacional—que não é de agora, sempre bom lembrar— falar em “desescolarização” parece fazer cada vez mais sentido. Se tem um ponto que é consenso em 99% dos eventos, estudos acadêmicos e grupos que atuam em educação é o de que a escola que temos hoje está bem longe de ser a escola que queremos.

Um dos principais motivos seria a falta de conexão da escola com chamado “mundo lá fora”. Diante de tantas novidades em tecnologia digital, da expansão de possibilidades da inteligência artificial, estamos quase perto do dia em que não mais será preciso ressaltar a presença da “cultura digital” de tão impregnada que ela já está em nossa cultura.

“Apesar de pesquisas apontarem aumento no percentual de domicílios brasileiros com acesso a internet nos últimos 3 anos, o índice de 61% (TIC Domicílios) ainda é inferior ao de outros países, mesmo no continente americano.”

Pensar uma sociedade sem escolas é algo relativamente antigo. Na década de 60, os estudos do pensador austríaco Ivan Illich já questionavam a instituição. Desde então, vem se tornando fundamental enfatizar a importância de termos uma educação com foco em aliar conhecimento teórico à prática, tornando o educando sujeito ativo e autônomo em seu processo de aprendizagem, respeitando suas características individuais e sociais. (alguém pensou em Paulo Freire?)

Bom, mas e a escola? Decidi fazer esse post depois de ler esse texto aquienviado pela amiga Paloma Chaves em um grupo de whatsapp que temos em comum. Fiquei por demais encantada (e perturbada) com os argumentos utilizados por dois intelectuais franceses para defender ou refutar a ideia de desescolarização. Ambos fazem sentido, são coerentes e têm ressonância em nosso contexto Brasil.

O próprio artigo traduzido pela Carla Ferro já funcionaria como gatilho para embasar uma boa formação de profissionais da educação, daquelas boas mesmo em que não se ensina nada, mas que se aprende muito junto. Que sugere reflexões, instiga análises do discurso e fomenta centenas de perguntas sem respostas. Só este último ponto já bagunçaria tudo, o que é excelente!

Costumo sempre dizer em minhas formações que temos que tomar cuidado com o mantra moderno do “pensar fora da caixa”, não no sentido de desenvolver a criatividade, porque isso sempre vai ser fundamental, mas sim quando ignoramos que a nossa criatividade desenvolvida vai ter que, invariavelmente, acontecer em um “caixa” quase sempre fechadinha em sua estrutura. Essa caixa pode ser a família, a empresa, a igreja, o grupo comunitário, a ecovila, o coliving, e, claro, a escola.

Se a gente pensar que essas “caixas” todas são constituídas de pessoas, se destruímos uma caixa aqui, logo outra surge acolá, com outro nome, outra identidade, outra “missão institucional”. Isso porque somos gregários e nos desenvolvemos mais no coletivo, quando trocamos e compartilhamos.

Talvez se pudermos pensar mais em como “desescolarizar” o que entendemos por escola, reinventar o fazer educação, partindo da certeza de que estamos e estaremos sempre diante de pessoas, seres humanos em constante evolução, com diferentes perfis e necessidades. Para haver uma convivência saudável, uma boa integração e uma aprendizagem significativa é preciso cuidar da forma como as relações se organizam no ambiente (sim, isso é política!).

Dá até para fazer um paralelo com a chamada ética hacker (falei um pouco neste post aqui), ou seja, quando se conhece bem o funcionamento de um sistema, seus pontos fracos e suas potencialidades é que se pode encarar os problemas de uma perspectiva positiva, gerando oportunidades de mudança e aprimoramento. E isso nunca tem fim. É um arrumar, desarrumar e rearrumar constantes. Como a vida, não?

 

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