Quem teve a oportunidade de visitar o Museu da Empatia entre novembro e dezembro de 2017 no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, pôde vivenciar a experiência de, literalmente, calçar o sapato de outra pessoa, caminhar por um espaço ao ar livre e saber um pouco mais sobre ela por meio de um depoimento em áudio.

Foi uma alegria saber que a procura estava sendo tão grande, que as senhas para o dia todo costumavam acabar logo pela manhã. Havia 25 pares (25 histórias) e as participações do público aconteciam de meia em meia hora. Como cheguei cedo, consegui ir duas vezes para poder vivenciar duas experiências bem diferentes. Em uma delas, a sapatilha tinha numeração bem menor que a minha e ainda havia uma elevação no solado de um dos pés.

Criado pelo professor e historiador australiano Roman Krznaric, que vive na Inglaterra, o Museu da Empatia (Empathy Museum) é um espaço pensado para aprimorar nossa capacidade de olhar o mundo através dos olhos de outras pessoas, enfatizando como a empatia pode transformar nossas relações interpessoais, inspirar mudanças de atitude e contribuir para o enfrentamento de desafios globais e contemporâneos como preconceito, inimizade e desigualdade.

Sou fã do Museu e da instalação “Caminhando em seus sapatos” desde que comecei a atuar com formação em Design Thinking para Educadores em 2014. Todos que já passaram pelas oficinas e cursos do Instituto Educadigital ouviram falar dessa ideia e, com certeza, ficaram muito curiosos. A edição brasileira foi concebida e planejada pela Intermuseus, que captou especialmente os depoimentos para o projeto.

Mesmo que você não tenha ido, é perfeitamente factível entender como a proposta funciona para pensar remixes, releituras e protótipos que poderiam ser organizados em escolas, instituições — e até mesmo em empresas. Um projeto de custo baixo, mas que requer alto grau de criatividade e colaboração! Sem falar no potencial transdisciplinar que a atividade pode ter!

Vejamos algumas sugestões:

1. Cartas ou bilhetes
Essa é talvez a versão mais acessível, pois usa materiais básicos como papel, lápis ou caneta. Cada participante deve receber um roteiro básico para a escrita, como por exemplo, escolher um aspecto sobre si mesmo que gostaria de contar a alguém. Pode ser um sentimento, um desejo, uma característica, um hábito ou um acontecimento. O importante é que o texto permita conhecer um pouco mais sobre quem é a pessoa-autora. Colocar o nome pode ser opcional. Assim que estiverem prontas, as cartas podem ficar em uma caixinha permanente, na sala de aula, ou em um espaço compartilhado entre mais pessoas para, periodicamente, instituir um momento para a visitação/experiência.

2. Desenhos ou ilustrações
Da mesma forma que as cartas e bilhetes, os materiais para essa versão também são bem tradicionais no espaço escolar. A diferença aqui é que se pode envolver os mais pequeninos da educação infantil e criar uma atmosfera lúdica em que eles podem decifrar, pelos desenhos, um pouco mais sobre as características dos colegas autores. Vai funcionar também com estudantes e professores que curtem mesmo é usar dispositivos digitais para produzir seus trabalhos. É possível digitalizar tudo e criar um museu virtual da empatia.

3. Contos, relatos ou narrativas
Excelente combinar essa versão com um projeto de escrita criativa, por exemplo. O conteúdo pode sugerir alguma relação com um tema que esteja sendo desenvolvido pela escola em diferentes disciplinas e que, por meio dessa aproximação, a pessoa consiga se colocar de forma bastante evidente como personagem no texto escrito.

4. Áudios
Esse seria o mais parecido com o Museu da Empatia oficial. Poderia ser feito um sorteio periódico para organizar (e rodiziar) entrevistados e entrevistadores. Sugiro conhecer ferramentas de edição de áudio como o Audacity, por exemplo, que é um software livre. Sapatos ou objetos poderiam ser associados à experiência. Em relação a materiais necessários, mini-gravadores, celulares ou mesmo o computador.

5. Vídeos
Versão semelhante à de áudios, mas com registro em imagem. Vale consultar as dicas do Museu da Pessoa, que tem experiência de 25 anos na curadoria de histórias e narrativas de vida de toda e qualquer pessoa da sociedade.

6. Objetos representativos
Outro museu bem interessante que visitei em Zagreb, na Croácia, é o Museu dos Relacionamentos Terminados. Por meio de objetos que remetem a situações inusitadas e curiosas sobre fim de namoros, casamentos e demais relações amorosas, o visitante vai conhecendo os casos e também se reconhecendo um pouco (quem nunca?). Daria para fazer uma versão de Museu da Empatia baseada em objetos que simbolizem uma história importante para a pessoa ou que expressem uma característica pessoal. O importante é que seja escolhido pela própria pessoa.

Para qualquer uma dessas possibilidades que você escolher, ou outras que você quiser inventar, é fundamental reunir um grupo de pessoas interessadas, promover um processo colaborativo de planejamento e cocriação de ideias para o museu, combinando as formas de interação, periodicidade de visitas, acompanhamento dos resultados, feedback e sugestões de todos para melhoria e continuidade da proposta!

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