Publicado em HUB Escola
Conheci o Design Thinking (DT) em 2010, no curso da ESPM conduzido pelos feras Tennyson Pinheito e Luis Alt, hoje também idealizadores da Eise. A minha busca era por uma formação que pudesse apontar caminhos para inovar em educação. Na época, já tinha 10 anos de experiência em projetos educacionais com uso de tecnologias digitais. Gosto de contar uma história que ilustra bem porque acredito tanto no Design Thinking para Educadores.
Lá no início dos anos 2000, um dos projetos que tínhamos era uma oficina online de criação literária conduzida por um escritor, o querido Jorge Miguel Marinho. O ambiente virtual interativo e amigável permitia que os participantes fossem exercitando a escrita de poemas, artigos ou crônicas, e visualizando os apontamentos do autor para, em seguida, reescrever e aprimorar o texto. Criavam ali seu portfólio e, ao final, podiam publicar um livro virtual. Não havia nada parecido na época! Tínhamos certeza de que era uma inovação!
Eis que um dia, um dos participantes, um professor do Ceará, nos escreve um email com um pedido peculiar: “adorei a oficina, mas agora quero fazer a minha com meus alunos.” Oi? Como assim, uma sua? Pânico geral na equipe. Nossa ferramenta não era preparada para isso. Reuniões e mais reuniões depois, tomamos uma decisão inusitada: OK, pode fazer, a gente te ajuda, pois queremos observar como o processo vai acontecer.
E foi assim que aquele professor, com nosso apoio nas postagens (ele não tinha acesso ao “admin” do sistema), foi conduzindo sua própria oficina e nos fazendo perceber que lindo seria se outros educadores como ele pudessem criar também sua própria oficina online. Aí sim a inovação surgia! Era preciso reestruturar os projetos para atender a demanda! A experiência de observar a condução da oficina pelo educador cearense serviu para, meses mais tarde, reformularmos toda a ferramenta para que ela pudesse de fato oferecer um serviço ao usuário interessado em desenvolver uma oficina de criação de textos a distância e gerar seus próprios livros virtuais.
Para quem conhece um pouco sobre Design Thinking, a etapa da “empatia” logo vem à mente com essa história, cujo relato completo pode ser lido na publicação que lançamos em 2006. Mesmo sem conhecer o DT na época, já o praticávamos de alguma forma, quase sem querer. Por isso, quando conheci a abordagem do DT, fez todo o sentido.
Empatia significa conhecer o público envolvido no problema que queremos solucionar ou no desafio que precisamos resolver. Se o contexto é o da educação, estamos falando dos alunos, da comunidade e dos professores e gestores. Quem são? O que desejam? Como podemos contribuir para causar impacto positivo em seu dia-a-dia?
Em 2012, quando soube do material que a IDEO lançava, especialmente pensando nos educadores, fiquei muito entusiasmada e tratei de dar um jeito de trazer para o Brasil. Depois de algumas negociações, viagens a San Francisco e busca por patrocínio no Brasil, é uma alegria imensa ter liderado essa empreitada de elaborar a versão em Português que vamos lançar. Design Thinking para Educadores é um remix, um recurso educacional aberto (REA), licenciado em Creative Commons, que vai estar disponível para baixar na íntegra ou por capítulos.
Nesse processo, o Fabio Silveira, designer e professor, que já conduzia oficinas de DT na Hub Escola, quando soube da minha iniciativa, me procurou para uma parceria. Adoro quando essas coisas acontecem, pois eu justamente precisava de um parceiro de trabalho na condução de futuras oficinas. E o Fabio também ajudou na finalização do material e na construção dos roteiros dos vídeos que estamos produzindo. <3
Nossa estreia juntos será nas oficinas da Hub Escola, no dia 12 de fevereiro, em São Paulo e, no dia 14 de fevereiro, em Belo Horizonte. Além da empatia, vamos trazer as outras fases, especialmente dirigidas aos educadores: interpretação, ideação, experimentação e evolução. E vamos também contar um pouco de um “case” brasileiro, o Edukatu.
O que me empolga demais no material da IDEO é que o DT é apresentado como uma abordagem sim, mas não como uma fórmula pronta a ser aplicada. E isso é essencial em educação. Respeitar o contexto, as diferentes realidades, as pessoas e os saberes envolvidos. Enfatizar a construção e a reconstrução de forma permanente. E, sem dúvida, incentivar a autonomia dos nossos educadores.
Vamos experimentar?
Priscila Gonsales
Fellow Ashoka, máster em Educação, Família e Tecnologia pela Universidade de Salamanca (Espanha), jornalista especializada em educomunicação, co-fundadora do Instituto Educadigital. Desenvolve projetos e pesquisas em educação na cultura digital desde 2001 e facilita processos formativos envolvendo Recursos Educacionais Abertos e Design Thinking.