Em uma oficina de formação para diretores de escolas públicas de Cajamar, na Grande São Paulo, os grupos precisavam apontar palavras que expressassem sensações ou comportamentos dos professores de suas respectivas unidades, a partir de quatro coordenadas: o que pensam, sentem, escutam e dizem.
Ao passar pelas mesas para acompanhar a atividade, notei que em um dos grupos havia muito mais papeizinhos coloridos grudados na parte assinalada como “escuta”. Cheguei mais perto e observei que o tom era de cobrança, ou seja, os professores retratados pelo grupo estariam escutando muitas frases impositivas. De repente, uma das diretora teve o insight: “Espera ai, gente! Se os nossos professores estão escutando tudo isso, é porque somos nós que falamos!”
Pronto. Meio caminho andado da formação já estava dado com aquela intervenção da diretora. Insight é uma palavra da língua inglesa que podemos traduzir por “percepção”. Isto é, aquele momento em que parece acender uma luz dentro da gente e as coisas começam a fazer mais sentido. Não foi preciso que eu como facilitadora explicasse que havia algo importante a ser registrado ali, a percepção surgiu do próprio grupo, já sensibilizado com a atividade. A oficina de Cajamar era sobre a abordagem do Design Thinking (DT) para Educadores, um recurso educacional aberto (REA), composto por livro e caderno de atividades, que enfatiza a importância dos momentos colaborativos para a resolução de problemas comuns ao cotidiano da escola ou da sala de aula.
Design pode ter múltiplos significados: plano, projeto, criação. E Design Thinking? Algo como pensamento de design ou design de pensamento? Trata-se de um conceito que ganhou popularidade no mundo empresarial nos começo dos anos 2000, quando a Ideo, uma das agências mais influentes e premiadas internacionalmente, com sede no Vale do Silício, na Califórnia (EUA), começou a utilizar em seus trabalhos de consultoria para organizações públicas e privadas do mundo todo. Em 2012, a Ideo lança um material especial sobre DT voltado a educadores, licenciado em Creative Commons. Em 2014, o Instituto Educadigital traduz e lança a versão em português, disponível para download na íntegra ou por capítulos e ainda para leitura on-line.
Antes que alguém questione se o DT para Educadores é mais um material americano – como outros tantos – traduzido para o português para ser aplicado nas escolas, preciso dizer que sim – e não! “Sim” porque de fato foi traduzido e adaptado para o contexto brasileiro, trazendo exemplos de práticas realizadas pelo Instituto Educadigital desde 2011. E “não” porque a palavra “aplicar” não faz o menor sentido no DT, ao contrário de impor um roteiro a seguir, existe total liberdade para adaptar as etapas (descoberta, interpretação, ideação e experimentação) a diferentes usos e situações.
Podemos definir Design Thinking como uma abordagem para a solução de problemas centrada nas pessoas e baseada em processos intencionais colaborativos para se chegar ao novo, ao que pode de fato inovar. Ou seja, o DT tem como concepção a cocriação. É preciso reunir pessoas de diferentes perfis para resolver um problema ou desafio, mas sempre tendo como foco o público diretamente envolvido no problema ou desafio. É uma estratégia de todos para todos (bottom-up), contrária do um para todos (top-down).
DT na educação valoriza algo que há tempos precisamos resgatar: a empatia. A atividade com os diretores de Cajamar incentivou o olhar empático para seus professores e a reflexão sobre como seria interessante que esses mesmos professores pudessem estar mais envolvidos nos processos decisórios em vez de apenas receber ordens e determinações da direção. Se o caminho para isso não é simples, juntos, os diretores trocam ideias e criam protótipos de possibilidades.
Na sala de aula, oferece uma oportunidade prática para que os educadores sejam de fato mediadores na construção do conhecimento. O professor pode utilizar o DT para planejar a sala de aula invertida ou implementar o trabalho diversificado por perfis de alunos. O gestor pode utilizar para organizar uma formação docente ou alcançar um objetivo da instituição como, por exemplo, estimular os pais a participar mais do cotidiano escolar.
O DT é muito eficiente ao propor o trabalho em grupos para valorizar a troca e a colaboração. Permite estimular o espírito cooperativo e a colaboração entre as pessoas para buscar sinergia nos processos e resultados pretendidos. O DT entende inovação como valor percebido pelas pessoas. Ao encarar os temas e problemas cotidianos como desafios, é possível pensar em oportunidades que levam a soluções criativas, como foi o caso dos professores da Escola da Associação de Servidores da Universidade de Brasília (UnB), que durante uma oficina de formação propuseram criar o “Fail Festival”, um dia especial durante o ano letivo em que os educadores poderão expor seus erros e compartilhar o que aprenderam com eles.
Para saber mais sobre como levar o DT para sua escola ou universidade:
http://www.educadigital.org.br/site/formacao-em-dt-especial-para-escolas-e-instituicoes-educativas/